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1. |
Ferrovia
03:42
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Na mesma esquina morava
Nada de mais pra rir ou ver
Acontecer
Mas olhava
Gotas de tinta
Parte do dia chorava
Antes do trem partir às três
Na rua, a cruz desenhada
Deita e se cala
Vai sonhar e ver se alguém ainda vem
Pra responder o que virá pra colorir
Além da estrada escondida, ferrovia descarrilhada
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2. |
Toco tua boca
02:49
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Toco tua boca
Com meu dedo contorno tua boca
E desenha, meu dedo, nova boca
Na tua
Toco a nova boca
Um sorriso e percebo outra boca
Abro os olhos e vejo tua boca
Na outra
E segue em liberdade o meu desejo
Imaginando em teu rosto bocas
Por um acaso que nem tento compreender
Ficam sempre como a tua
Olhas no meu olho
Num segundo estás dentro do meu olho
Fecho os olhos e sinto tua boca
Na minha
Lutam lábios
Línguas levemente tocam dentes
Ares de perfumes muito antigos vão e vêm
E se nos mordemos
Doce é nossa dor
E se nos falta, de repente, o ar
Afogado, nosso beijo é uma pequena bela morte
Uma só saliva
Um só gosto de fruta madura
E teu corpo a tremer como a lua
Na água
Como a lua na água
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3. |
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Meu corpo tem trilhos, meu corpo tem trem
Meu corpo tem trecos e vaga pra versos,
Meu corpo os tem sem ter corpo nenhum
Nem coisa que-nem.
Meu corpo tem corpos que correm no corpo,
Que é corpo sem corpo – que é corpo de quem?!
Meu corpo é trilhos, meu corpo é um trem!
Que corre sem corpo num corpo que é corpo
e mente também.
Meu corpo é vagão com vagas – mais cem –
Pra corpo, pra corpos, pra verso, pra treco,
Pra trilhos, pra trem, que corre com a mente –
e corre tão bem!
Meu corpo é demente: Ê corpo discrente!
Meu corpo desmente que é corpo que mente
Que mente que corre – que mente tão bem
Que mente até cem; que mente até sem
mentir pra ninguém...
Às vezes vai e vem
Um verso viçoso,
Sem trilhos nem trem;
Um verso arvoroso
De quem-sabe-quem...
Nem Deus vai saber,
porque tanto fez!
Porque tanto faz
o menos ou o mais:
Porque nem talvez,
Meu Deus, Deus não tem!
E o poeta é que-nem:
Num verso, forçoso, se perde também;
Mas segue, colosso, por mal ou por bem.
– Não-seja ou Amém!
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4. |
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Preparo caravana aos confins de mim,
mas não há tantos homens, lá, querendo ir
dentre eles há aqueles que jamais, de si,
[vêem-se partir.
Por mais que não lhes custe nem um só tostão,
é temerosa a hora de se darem as mãos,
doarem-se a um homem que, por profissão,
[doa o coração.
Preparo caravana aos confins
do pouco – e muito – mundo que há em mim,
mas não há tantos homens, lá, querendo ir
– e entendo a razão de serem bem assim.
Que será que hei de exibir?
Um emplastro? O grão-elixir?
Não; e nem sei bem o quê;
mas eis-me aqui...
aqui...
pronto pra partir.
Por mais que não lhes custe nem um só tostão,
pode essa eudisséia ser até ruim;
mas nós seguiremos, mesmo após seu fim,
[feito dois irmãos.
Preparo caravana aos confins
do pouco – e muito – mundo que há em mim,
mas não há tantos homens, lá, querendo ir
– e entendo a razão de serem bem assim.
Que será que hei de exibir?
Um emplastro? O grão-elixir?
Não; e nem sei bem o quê;
mas eis-me aqui...
aqui...
pronto pra partir.
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5. |
Mediterrar
03:11
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Senti tão lá
Pra cá eu vim mas vou voltar
Pequi aqui não há
Nesse cerrado 'inda não vi ventar
Mas quando eu for para Beagá de vez
E o sol nascer sem mar
Vou sentir até talvez
Saudades de mediterrar
Aqui tão só
Tomando vinho pra esquecer
Lembrar o tempo bom
Rolando o som até amanhecer
Pode ser também que tudo lá mudou
Ou eu me transformei
Quanto tempo, enfim, já se passou
Agora já nem sei
Agora sou
Daqui também
Não sei
Tanta gente que eu quero bem por cá
(Mas) deu vontade de partir
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6. |
Trilha clara
04:12
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Quem crê e não duvida
Nas muitas maravilhas do amor
De amar
Todo grande, todo elegante é o amor
Amar
E tudo dar, e tudo acender ao luar
E ao luar renascer
De lá, o amor respira
Alto no firmamento a brilhar
Luzir
Todo homem, toda mulher é de amor
Poder
E tudo ser e se refazer na manhã
E dominar, desatar o sofrer
E não irá morrer de amar
E não irá morrer
Vejo a trilha clara, raro entardecer
Quero a Guanabara linda pra você
Dormirão cidades, despertar
Quem crê e não duvida
Nas muitas maravilhas do amor
Todo grande, todo elegante é o amor
Amanhecer, anoitecer você
De lá, o amor respira
Alto no firmamento a brilhar
Luzir
Todo homem, toda mulher é do amor
Dever
E tudo ser e se refazer de manhã
E dominar, desatar o sofrer
E não irá morrer de amar
Não irá do amor morrer
Vejo a trilha clara, raro entardecer
Quero a Guanabara linda pra você
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7. |
Peruinha destino Paraíso
01:14
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Todo dia
Menininha
A caminho de sua casa caminhava
A cantar tão venturosa a vidazinha...
Certo dia
Menininha
A caminho de sua casa caminhava
A cantar tão venturosa a vidazinha...
Que não viu: que vinha voando a peruinha.
“Paraíso” é o que dizia a plaquetinha.
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8. |
Ma peau est triste
03:07
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Ma peau s’attriste
piano sans touches
oiseau sans ailes
Ma peau est triste
telle une farouche
et cloitrée bête
Elle est un cimetière
où se couche
tous ces souhaite
Qui n’ont ni rime
ni raison
douce, ou lourd, ou frêle
Creusée, abîme, mémoire
Dans trou
Ma peau t’appelle
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9. |
À margem do tempo
04:48
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Marginal
Um gozo na carne, um tiro na veia
Circular
À sombra da noite, minha cabeça
Gotas de lua
acendem o mar em mim
Caio na rua,
sinto no ar
um gosto de chuva
Pelos poros, portas, janelas
Becos tortos, vilas, vielas
É tão tarde agora pra dormir
Temporal
Por dentro da pele, a alma molhada
Um sinal
A calma do vento, o tempo parado
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10. |
Desejo
04:26
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Reluziu
Dia branco bem depois do breu
O azul
Todo azul do céu amanheceu
Raiou
O incansável sol apareceu
E eu
Em silêncio então permaneci
No afã
Vi aldebarã se iluminar
No frio da tarde de abril
Meu coração
Logo pediu
Amor em mim
Um pouquinho só de amor valeu
Solidão
Véu da noite na escuridão
Reluz
Olho encantado do toré
Que vê
Índio invisível se benzer
E eu
Entoei um ponto pra kerê
Kerê
Laroyê chamei para varrer
O mal que insiste em nos doer
Meu coração
Então pediu
Amor em nós
Um tantim de amor pra valer
Amar
Ser de novo novamente gente
Erguer
Uma humanidade diferente
Capaz
De viver a vida simplesmente
Para ver
O azul do céu amanhecer
E eu te dou meu coração
Pulsando mais
Amor
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11. |
Tubarão branco
02:12
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Vejo uma piscina azul
Você se afogando
Então, corta o pé num azulejo
Vem e te come um tubarão
Um tubarão branco
A piscina é perigosa
Você não sabe nadar
Corre, escorrega na borda,
Bate a cabeça no chão
O seu sangue escorre,
E vem o tubarão
O tubarão lá da piscina
Que manda em tudo, e determina
Onde vai você,
Como anda
E o que vai comer
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12. |
20 anos
04:07
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instrumental
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13. |
Nó
02:54
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Seria tudo um sonho, tudo um só?
Alguma diferença se não for?
De um lado um oceano,
de outro um nó que tornava-nos um par
Que contornava a nossa ilha.
Se pra fazer sentido essa dor
Precisa ter saída ou sabor?
Eu sobreviveria um dia,
só não me peça pra ficar
Só não me deixe sem saída.
O ponto fraco desse cordel
É o nó que une você e eu
A milhas daqui
Em terra ou ao mar
Aviso ao navegante amador
Tem dor que gente sente pela dor
É muito diferente dessa
da qual acabo de cantar
Dor que se sente quando passa
A chave da questão é procurar
Eu vou desancorar e navegar
Vivemos como foi preciso,
mas não me peça pra voltar
Desembarquei de nossa vida
O ponto fraco desse cordel
É o nó que une você e eu
Mil milhas daqui
Em rimas ao léu
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14. |
Nós
01:12
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instrumental
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15. |
Essa dor
04:35
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Lancinante dor que me retalha a cada instante
Chaga no meu peito que não quer sair
Arrogante desespero, forte diamante
que me dilacera, me faz desistir
Paciente ardor que me consome lentamente
Força que me atinge de lugar algum
Consciente estou de que a queda é iminente
Logo cedo, e caio no lugar-comum
Mareado de tristeza,
embebido em agonia,
exaurido de próprio-amor
Isolado em fortaleza,
enjaulado em cela fria,
despojado de aroma ou cor
Eu vi perdurar a dor
Vi, distante, o céu
No mar eu sucumbi
Dissidente amor que me derruba decadente
Arma contra o corpo que me faz cair
Contundente flor que em mim respira independente
Corte que me sangra até não existir
Relutante cura que me chega agonizante
Falha ao discernir escuridão da luz
Cartomante lendo às cegas, falso comandante
que para o abismo segue e me conduz
Eu, perdido entre meus sonhos
tateando uma saída
degradante e sem pudor
Delirante, pressuponho
uma nova e breve vida
sem horário e sem credor
Eu quis evitar a dor
mas, distante, o sol se foi
e eu me desfiz
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16. |
Às cegas
02:11
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Risco que correu por um triz
Malograda cicatriz
Pulga atrás d’orelha
Ruga d’uma velha
Caule que perdeu a raiz
Madrugada infeliz
Ferpa no assoalho
Retorcido galho
Se insinua então de soslaio
Vento no outono
Da pele,
Da vista,
Às cegas,
Penetra
No quarto
abissal
Vida que encenou nossa atriz
Malfadada imperatriz
Queda da cadeira
Boca de caveira
Ignora o odor do nariz
Encarquilha nos covis
Feito bicho sujo
Lento caramujo
Se está nua então, só decai
teia que se trai
areia que se esvai
a veia sobressalta
Balbucio que se desdiz
Maldizeres infantis
O risco que correu
A vida por um triz
Acaba nesse breu
Desmancha feito um giz
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17. |
Conversa com Jonas
04:10
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Fala, meu Mestre, meu santo,
que foi desse mundo
prum outro recanto,
conta pra mim o que conta
do que há nesta vida
– fechadas as contas
– que eu ando perdido e confuso
com tanta mentira e rancor,
o que anda caindo em desuso
é aquilo a que mais dou valor...
Fala, meu Mestre, meu santo,
o que vale a pena
aqui, por enquanto?
conta pra mim o que conta
de todo o absurdo
– de que mal dou conta
– que eu ando perdido e confuso
com tanto rancor e mentira,
mesmo o ar vem caindo em desuso,
é a dor o que mais se respira...
Fala, sô Jonas, meu santo,
que a pena tem fim
e o resto é só encanto,
conta pra mim (– faz de conta...)
que todo esse pranto
aí não se encontra.
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18. |
Samba em três
01:38
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Índia ocidental
Onde pára o sol
Latitude vinte graus
Ilhas a granel
Mar que beija o céu
Bem no clima tropical
Passa o Panamá
Na Jamaica, Jah
Cúmbia na Colômbia
Bravos siboneys
Dançam samba em três
Habaneras ancestrais
Lá se converteu, se bebeu, por amor
Quente sangue se verteu, por louvor
Serras, costas, botas e matagais
Biltres, putas, padres e canibais,
Escravos, senhores...
Granada, intervenção
Haiti, motim
Trinidad, não tá ruim
Nas Antilhas, cais
Mastros e canhões
Offshores sem fiscais
Grande Caimão
Rumba, salsa, son
Merengues dominicais
Bravos siboneys
Dançam ao som do tres
Habaneras ancestrais
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19. |
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Não temos mais que uma marimba
um conta-gotas e olhe lá
Cadinho só se sabe ainda
Qual é a conta pra se contar
Então se esquece da marimba
– caipora fica ao deus-dará.
Mas eis que enquanto pipa pinga
e pinto pia pra danar
(É feito um peito que rezinga
e aos tapas pede um prantear
– a gente o tapa e põe mandinga
que as gotas sumam sem vazar)...
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20. |
Um doce de moça
02:03
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Admiro essa vendeira
vislumbrando olhos de sogra
e suspiros – boa feira
às segundas terças quartas
tão bem sétimas e oitavas...
Ai... a moça brigadeira
embolada em brevidade
sem descanso nem consolo
de maçãs e amor à alma...
não se a pega nem apalma
– só se a toca a fura-bolo...
só pra ver se é de verdade...
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21. |
Veneno remédio
03:00
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Foi mais um domingo bem sem graça
Vendo jogo na tevê e esse meu time que não sai nem falta faz
Não passa essa retranca nem tabela
Lá vai mais outro chute de donzela
Outra bola fora logo agora
que demora do volante, tão distante que não marca o lateral
Que falta faz um meia cerebral
Um atacante com tiro fatal
A pressão vai mal, tome cuidado que tá fraco o coração, doutor já receitou
Veneno remédio, o ludopédio panacéia capital, a droga da paixão
Ó meu bem cuidado com essa taça
que perigo que desgraça, ninguém pensa com a cabeça pra atacar
assim meu coração atribulado
não güenta ver mais pênalti anulado
bandeira de uma figa, torresmo de barriga
traz lá mais outro Sonrisal
Lançamento errado pro ponteiro
o desespero só aumenta e nem cerveja alivia a aflição
se formos pra segunda divisão
meu plano não tem cobertura não
Soco do goleiro pra escanteio
que proposta defensiva, lance feio, o zagueiro é um animal
eu tomo dose de contra-indicado
afasta esse ameaça aqui do lado
A pressão vai mal, tome cuidado que tá fraco o coração, doutor já receitou
Veneno remédio, o ludopédio panacéia capital, a droga da paixão
Pelamordedeus, falta de raça,
E outro trago de cachaça, só assim pra tolerar essa pelada
Impedimento bem na hora errada
Eu grito e minha veia tá saltada
bandeira de uma figa, torresmo de barriga
traz lá mais outro Sonrisal
Foi mais um domingo um sofrimento
Vendo jogo na tevê e esse momento do meu time não dá pé
Não sobe posição nessa tabela
A bola espirra e bate na canela
Apela pra qualquer pajé
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22. |
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No Carnaval vai ter folia no iate
Escolha a fantasia
de mordomo ou de alcaide
Na festa você vai fingir que é
um proletário de um país qualquer
vivendo a ilusão de ser feliz
Que lindo!
Deixe de lado a tristeza
já está sobre a mesa,
a reforma chegou
No Carnaval vai ter orgia no iate
Gozar no seu futuro
sem restrição de idade
Escravos e empregados sentarão
no colo quente e justo do patrão
felizes, se beijando com ardor
Que lindo!
São tantas mãos a esfregar sem pudor
o bolso do despido
a casa do não-morador
o sonho interrompido
de alguém que não se aposentou
o luto esquecido
da história do trabalhador
o que era pra ter sido
do gigante que não acordou.
Mas alegre-se:
No Carnaval vai ter suruba no iate
Você será comido
por Sua Majestade
A brincadeira é saber quem vai
ficar com a princesinha do papai
por mérito e justiça, ela chegou
Que lindo!
Venha alegrar essa festa,
afine a panela,
sua hora chegou
Chegou...
"Você merece... você merece..."
Meu Carnaval já foi vendido num iate...
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Mauricio Ribeiro Valencia, Spain
Mauricio Ribeiro is a Brazilian musician, composer and music producer.
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